🎬 É amargo ver a singularidade de um artista ir de diferencial a muleta e por último algema criativa. Se até A Crônica Francesa (2021) o cinema de Wes Anderson sobrevivia ao comodismo no próprio hermetismo - adotado desde auge em O Grande Hotel Budapeste (2014)- pois sempre havia alguma nova inventividade para balancear o peso emocional em meio à excentricidade, em Asteroid City (2023) a transição entre o primeiro e o terceiro estágio me surtiu de supetão.
😬 Sendo assim, o novo longa de Anderson trouxe expectativas mistas. De um lado, temia uma nova aporrinhação pedante engolida por peripécias exibicionistas, por outro, torcia por mais que do que emoções “biscoito de biscuí”. E, até o final do segundo ato, estava me divertindo horrores dentro da segunda chave.
👨👧 Focando no relacionamento entre Korda (Del Toro) e a filha noviça (Theapleton), o filme expõem um vínculo humano palpável em meio à toda excentricidade do universo da corrupção dos magnatas sessentistas. Com ritmo ágil, as gags visuais voltam a entreter por focarem menos em um tipo de riso intelectualizado e abraçarem o pastelão desavergonhado. Até o tom farsesco das reflexões sobre dinheiro, religião, carência e culpa ganha estofo crível.
🤡 Mas aí vem o terceiro ato — e o lado Mr. Hyde de Anderson volta à tona. Desperdiçando Cumberbatch em uma reviravolta tosca além do pretendido, o clímax bobo arruína a catarse de Korda. Tudo vira uma besteira cujo humor já havia perdido o punch. O que faz tudo soar como uma perda de tempo.
🎈 Dito isso, o epílogo é doce em como realça, por contraste, o valor das pequenas coisas, da simplicidade e dos laços de afeto genuínos visualmente. Se não fosse o harakiri egóico dos 15 minutos anteriores, eu saudaria um possível retorno de Anderson a interesses mais humanos.